Ontem, às 7 da manhã, a polícia foi despejar o Carlos e a Alcina, e o pai da Alcina, 89 anos de cadeira de rodas. Deram-lhes 10 minutos para saírem de casa. Não estava presente nenhuma assistente social, nem lhes foi assegurada nenhuma alternativa. É um despejo de 3 pessoas que não têm para onde ir e de dois cães.
Este era um desfecho anunciado, e, tanto a Stop Despejos como a Habita, como outros coletivos do Casa Para Viver, alertaram a CML, o seu presidente, os seus vereadores, incluindo a vereadora com o pelouro da habitação, Filipa Roseta, a Ministra da Habitação Marina Gonçalves, a Santa Casa da Misericórdia, o IHRU… Mas nenhuma instituição do Estado se dignou a arranjar uma solução de habitação para a família da Alcina (que está inscrita em todos os concursos de habitação existentes). Toda a gente sabia deste despejo iminente e ninguém fez nada.
Depois do despejo – tão violento como rápido – fomos ao Ministério da Habitação, porque a ministra já nos tinha dito que estava “a avaliar a situação” da Alcina do Carlos e do Pai e que “tinha sempre as portas abertas para receber as famílias que precisam de soluções de habitação”. Ficámos 5 horas à espera, mas ninguém do gabinete da ministra se dignou sequer a vir falar com a Alcina, apenas se limitaram a solicitar proteção policial desproporcional. Já no fim do dia, e quando ficámos com a certeza de que a ministra ia deixar a família na rua, ligámos para a linha de emergência 144.
Da linha do 144 responderam com propostas indignas: uma pensão na Amadora sem condições para uma pessoa em cadeira de rodas; ou uma pensão para a Alcina e o Carlos e um centro de noite para o pai, separando a família e deixando o pai sem os cuidados de que precisa. Em ambas as hipóteses, a pensão seria apenas para passar a noite e os cães teriam de ser abandonados à sua sorte. A Alcina e o Carlos recusaram-se a abandonar o resto da família; disseram não às propostas indignas que o Estado apresentou.
Restou-nos a solidariedade de quem veio gritar contra o despejo: no final, conseguimos (entre muitos) pagar um alojamento local para a família poder ficar junta e ter onde passar a noite.
Mas hoje, onde irá dormir esta família?