Ontem a Habita e a Stop Despejos estiveram no Novo Banco a exigir a suspensão das penhoras que vão despejar duas famílias. Queríamos apenas ter uma reunião com alguém com capacidade para suspender o acto vergonhoso de atirar famílias para a rua quando está a receber confortavelmente os milhões do orçamento do estado.
Ao fim de 5 longas horas finalmente o banco acedeu a marcar para hoje estas reuniões de negociação. É bom lembrar que só a pressão exercida por mais de 30 pessoas a denunciarem ruidosamente à porta da sede na Avenida da Liberdade os convenceu!
✊ Juntas somos fortes.
Porque lá fomos?
Os bancos são actores determinantes do processo de financeirização da habitação, desde há muito tempo.
A política de habitação em Portugal, durante décadas, foi a de entregar dinheiro público aos bancos para bonificar os juros dos empréstimos para compra de casa. Nesta bonificação de juros foram gastos mais de 7000 milhões, quase 75% de todo o dinheiro investido pelo estado em habitação, quase 5 vezes o que foi gasto em programas de realojamento ou na promoção de habitação pública, que obtiveram menos de 1500 milhões. O problema da habitação a ser resolvido pelo mercado, com os resultados que estão à vista.
Todos sabemos como este incentivo à compra de casa própria foi na realidade uma enorme ajuda aos bancos e criou todo um sistema para construir casas que ficaram vazias, que se sobreavaliaram as casas para empolar os empréstimos, que levou ao descalabro do crédito mal parado associado à crise financeira. Mas saber-se não impediu que no fim muitas pessoas perdessem as casas e ainda assim mantivessem as dívidas.
Vários bancos viram compensada esta tendência para a leviandade nos empréstimos com capitalizações sucessivas. O risco do negócio privado a ser suportado pelos nossos impostos. O Novo Banco já recebeu do estado 3900 milhões de euros e vai receber este ano mais 600 milhões em grande contraste com os 135 milhões de euros orçamentados para a Habitação.
Na Habita começamos a vislumbrar os detalhes deste jogo macabro: estão connosco duas famílias que estão ameaçadas de despejo porque a casa onde moram está penhorada pelo Novo Banco. Conhecemos outras histórias em que são outros os bancos envolvidos. Propusemos ao Novo Banco uma negociação que trave estes despejos. Ainda sem resposta.
As histórias destas pessoas e da sua busca por habitação são paradigmáticas e destapam inúmeras questões que necessitam de investigação: habitações sociais vendidas com crédito acabam sujeitas a penhora, esquemas de troca de fiadores desconhecidos entre si, escrituras de compra por procuração… a realidade do funcionamento na base dos esquemas e engrenagens que nos habituámos a ver no topo da circulação de capitais. Um dos casos que denunciamos hoje é o de uma penhora a favor da Finsolutia SA, fundo de gestão de activos tóxicos do Novo Banco, verdadeiramente comprado a preço de saldo para servir de veículo na angariação de dinheiro público. Um poço sem fundo, onde se cruzam parentescos e nomes de família, desvios de dinheiro e fugas de informação, que pede muito trabalho de investigação, também jornalística.
Mas entretanto, o Novo Banco penhora casas e despeja gente.
Vamos repetir a sequência: um banco que faz negócios fraudulentos, despeja gente sem alternativa e recebe mais do orçamento do estado que a habitação.
À parte acharmos vergonhoso que se continue a injectar capital em bancos privados suspeitos de fraude – e isso é opção política do governo-, precisamos de conhecer quem são os agentes de especulação imobiliária em Portugal e responsáveis por despejos.
A Habita quer e vai investigar.
E vai exigir respostas, organizar acções.
Se a tua casa está a ser penhorada por um banco, vem à nossa assembleia, todos os segundos e quartos sábados de cada mês, na Sirigaita // Rua dos Anjos 12F, às 15 horas.
Quem mais se junta?