A expulsão violenta, ilegítima e ilegal da Seara – Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara – não foi uma derrota, foi a demonstração clara da realidade que vivemos no dia a dia e da resistência de um movimento que cresce.
O Estado ratificou oficialmente ontem um novo modo de agir: defendeu e legitimou um despejo ilegal e mafioso perpetrado pelos proprietários e seus advogados, que contrataram seguranças de uma empresa privada para arrombarem a casa e entrarem lá dentro ameaçando as pessoas e obrigando-as a sair. De madrugada, como no tempo da PIDE. Os capangas tiveram a proteção da polícia, entraram e saíram da casa o dia inteiro sem quaisquer consequências, forçando finalmente a expulsão de toda a gente. Apesar de os despejos estarem por lei suspensos, a polícia colocou-se do lado da propriedade – obviamente, é a coisa mais importante que conhecem – defendeu os assaltantes contratados e expulsou toda a gente. Apesar do impasse que se gerou durante muitas horas, não houve ninguém que tenha vindo para mediar a situação ou intervir no sentido de impedir que ganhasse a máfia.
Perante a enorme crise económica e social que existia e que se aprofunda – multiplicando as pessoas que perderam o seu sustento e têm cada vez piores condições de habitabilidade, basta ver o aumento de barracas, pensões e casas sobrelotadas, pessoas a viver em tendas na rua, alugueres de beliches para dormir em quartos sobrelotados, subaluguer de quartos, etc. – quem ganhou foi a especulação! Casas abandonadas que se degradam enquanto valorizam em alguma folha de excel e que têm como horizonte o desenvolvimento para o luxo e vendas multimilionárias a fundos que se dedicam à lavagem de dinheiro, evasão fiscal e venda de vistos. São estes que são protegidos, em nome dos quais se deu ontem a carga de bastonadas e gás lacrimogéneo e se mandou gente para o hospital, e que se expulsaram mais de uma dezena de pessoas que ficaram sem um lugar para dormir.
A resistência e o protesto aumentam! Ontem vimos que em pouco tempo vários colectivos e muitas centenas de pessoas correram a apoiar a resistência contra o despejo ilegal e violento que estava a acontecer. Este apoio e solidariedade foram fundamentais para dar força à resistência e dar visibilidade à vergonha do que ali se passou, mas não só, à vergonha do que existe.
A onda de protestos e de ocupações deve continuar. Tem de continuar! Perante a crise social e económica é uma aberração compactuar com a cidade que se constrói para o luxo. A força e a união que vimos ontem tem de fazer parte de um movimento que cresce e toma fôlego para disputar a cidade. Este problema é estrutural, transversal e afecta a sociedade no seu todo. Cabe a toda a gente posicionar-se. Corpo a corpo resgataremos a cidade.