Actualização: Despejo de cinco famílias no Catujal

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Habita!

As cinco famílias despejadas do Catujal ainda estão à espera de uma solução.
Até ao momento os serviços sociais da Segurança Social de Loures pagaram um hostel para as famílias em Vila Franca de Xira mas agora que a escola vai recomeçar, querem separar as famílias.
Os moradores e as moradoras escreveram esta carta [abaixo] para os serviços sociais para ficarem juntas mas ainda não obtiverem resposta.

Hoje é mais um dia de luta, estejam atentas porque ao longo do dia poderemos precisar de mobilizar gente para vir apoiar as famílias.


Vimos por meio desta carta e após reunião de moradores contestar a decisão expressa pelas assistentes sociais de separar as cinco famílias que foram despejadas no Catujal . Gostaríamos então de expor por escrito e para que fique registado, a nossa opinião acerca desta decisão. Solicitamos também uma resposta escrita à carta que agora apresentamos.

  • Sempre vos foi dito que nos organizamos e funcionamos como uma família alargada, mas esse facto não foi levado em consideração. As nossas cinco famílias são a nossa comunidade, a nossa rede de apoio primário, especialmente no apoio ao  cuidado das crianças.
  • Foi nos dado  apoio monetário para os transportes para nos podermos  organizar com a escola das crianças.  Fizemos um horário de modo a nos revezar entre 3 famílias para acompanhar as crianças à escola, e como tal só solicitamos apoio para pagamento do passe para 3 famílias.
  • No entanto, tudo que planejamos foi por água abaixo com a decisão de separar as familias.  A Dulce ficará sem apoio de outros adultos para poderem ajudar no acompanhamento das crianças à escola.
  • A Dulce tem  4 crianças a seu cargo, e a sobrinha de 18 anos que neste momento ainda está a estudar, não pode, nem deve fazer-se cargo dos outros menores. Ao  privar esta mãe de família monoparental  do apoio que tinha das outras famílias , deixam-na isolada e numa situação de perda de autonomia. Ela terá de levar e buscar as meninas à escola, sendo que tem um bebê de 1 ano e 5 meses e não tem com quem deixá-lo.
  • Dizem que as crianças são uma prioridade mas neste caso notamos que não priorizaram o bem estar emocional  e psicológico destes menores .
  • Estas crianças foram expostas à violência de um despejo,  foram postas  na rua com as suas famílias e sem nenhuma solução habitacional à vista.   Após terem vivido esta situação bastante traumática, vêm-se agora obrigadas a separarem-se de pessoas que consideram irmãs.
  • Estão habituadas a estarem sempre juntas e nós  sempre nos apoiamos uns aos  outros. Nunca passamos fome ou dificuldades ainda maiores , porque contamos sempre uns com os outros .
  • Visto que nos foi dado um alojamento temporário, até conseguirmos uma solução definitiva,  não entendemos  porque nos querem separar.  Para ir ao vosso encontro podemos ir de qualquer lugar onde estivermos , sendo que já nos foi dado apoio com o transportes.
  • As pessoas que se encontram a trabalhar não  têm dificuldades de chegar ao hostel ou a qualquer outro sítio que seja necessário, mudar para Lisboa não vai ajudar a estarem mais perto do trabalho como foi argumentado.
  • Aqui ou em outro hostel terão sempre  gastos e não entendemos como é que não há uma solução de alojamento para a Dulce perto das outras famílias. Neste momento o que não falta em Lisboa são hostéis vazios!
  • Não consideramos que os motivos por vós apresentados sejam suficientemente válidos para separar-nos daqueles que têm sido a nossa família alargada e o nosso suporte primário.
  • Queremos também assinalar que muito em breve as crianças vão recomeçar as aulas presenciais no Catujal, e como tal seria mais conveniente uma solução de alojamento provisório na área de Loures.
  • Agradecemos que levem em consideração a nossa argumentação e a nossa necessidade de continuar perto umas das outras.

A família é feita de laços para durar, não importa se  de sangue ou de coração o que importa é que existe amor. As famílias de verdade são formadas por pessoas unidas que se apoiam incondicionalmente, que querem o bem do outro , que se sacrificam reciprocamente sem pedir nada em troca que celebram as conquistas e as alegrias da vida e que oferecem ombros para suporte para a dor e para o choro.

Queremos continuar unidas!

Assinam esta carta,

Os moradores despejados do Catujal,
com o conhecimento e apoio da Associação Habita! e da Stop Despejos